A pluralidade regional da educação superior no Brasil
- Bruno Barreto

- 12 de nov.
- 4 min de leitura
O cenário da educação superior particular no Brasil, embora grandioso em números – com mais de 8 milhões de estudantes na rede privada no último Censo –, revela uma complexidade que exige uma análise granular. Longe de ser um mercado homogêneo, o país se manifesta em múltiplas realidades regionais, cada qual com suas particularidades, desafios e oportunidades. O "Panorama da Educação Superior Particular nas Regiões Brasileiras", do Grupo Crátilo, surge como um farol para mantenedores e reitores que buscam navegar com assertividade neste "Brasil profundo".
A pesquisa destaca que, apesar da concentração de mercado em poucas grandes IES (apenas quatro detêm 23% do total de universitários), a vasta maioria do sistema é composta por pequenas e médias instituições. 76% das IES brasileiras possuem até 2.000 alunos, e um alarmante 41% operam com até 300 estudantes, um número que, infelizmente, continua em declínio. Essas IES regionais, embora enfrentando sérios desafios de sustentabilidade e a pressão sobre o valor das mensalidades, são a espinha dorsal da educação em incontáveis comunidades. Compreender a dinâmica de cada região é, portanto, crucial para o planejamento estratégico e a otimização do portfólio de cursos.
Dinâmicas regionais: um mosaico de oportunidades
A análise regional revela tendências e comportamentos distintos que sublinham a necessidade de estratégias localizadas, conforme detalhado na pesquisa:
Região Norte: o Impulso do EAD e a força local
O Norte se destaca pelo crescimento expressivo do EAD, que representa cerca de três quartos do volume total de ingressantes na região. Pará e Amazonas, juntos, concentram dois terços de todos os ingressantes.
No ensino presencial, cursos regulamentados como Direito e Enfermagem mantêm a liderança, enquanto Pedagogia e Administração impulsionam o EAD.
Região Nordeste: liderança consolidada do EAD
O Nordeste mantém estabilidade no número de ingressantes, com o EAD firmemente estabelecido como modalidade predominante, representando mais de dois terços do volume total em todos os estados. O crescimento desde 2019 foi impulsionado quase que exclusivamente pelo EAD.
Pedagogia e Educação Física são os cursos de maior volume no EAD, enquanto Direito e as carreiras da Saúde dominam o presencial.
Região Centro-Oeste: Agronomia em destaque e a influência dos grandes grupos
A modalidade a distância é a força motriz, respondendo por mais de dois terços do volume de ingressantes em todos os estados da região. O mercado presencial mostra estabilidade.
Cursos como Agronomia ganham relevância tanto no EAD quanto no presencial, refletindo as características econômicas regionais.
Região Sul: EAD em ascensão e o presencial pós-pandemia
Apesar do crescimento geral de ingressantes entre 2022 e 2024, a modalidade presencial ainda não recuperou seus patamares pré-pandemia. Em 2019, o presencial registrava 193 mil ingressantes, enquanto em 2023 e 2024, esse número ficou em 167 mil.
A região é berço de grandes marcas de EAD (Unopar, Vitru, Uninter), que também demonstram força no presencial.
Região Sudeste: o motor EAD que mais cresce no país
O Sudeste se destaca como o mercado que mais cresceu em ingressantes desde 2019, impulsionado massivamente pelo EAD. Atualmente, o EAD representa mais de dois terços do volume total de ingressantes em todos os seus estados.
No EAD, Pedagogia e a área de Negócios são os mais procurados, enquanto o presencial mantém a força em Direito e Psicologia.
Principais descobertas e implicações estratégicas
A pesquisa do Grupo Crátilo revela insights cruciais para o setor:
Dominância e crescimento acelerado do EAD: A modalidade a distância (EAD) é o principal impulsionador do crescimento, representando 73% dos ingressantes e 61% das matrículas no mercado particular em 2024. O alcance do EAD expandiu-se significativamente, passando de aproximadamente 1.600 municípios com polos em 2014 para mais de 3.387 em 2024. Este crescimento é um reflexo direto da preferência dos estudantes por modelos de aprendizagem mais dinâmicos e flexíveis.
Estagnação da modalidade presencial: A modalidade presencial não conseguiu retomar os níveis de captação pré-pandemia em nenhuma região do país, mantendo-se estável entre 2022-2024 e ainda abaixo dos patamares de 2019.
O "Brasil Profundo" e o papel social do EAD: O estudo sublinha a importância vital do EAD para o "Brasil profundo", especialmente em mais de 2.466 cidades com menos de 10 mil habitantes. Nesses locais, o EAD frequentemente se configura como a única ponte para a aprendizagem e o futuro, atendendo a estudantes de baixa renda e trabalhadores.
Taxas de escolarização e comparativo OCDE: A proporção de pessoas de 18-24 anos que frequentam o ensino superior é de 25%. O Brasil ainda se encontra abaixo da média da OCDE para a população com ensino superior nas faixas etárias de 25-34 e 35-64 anos, indicando um vasto potencial de crescimento.
Popularidade de cursos por modalidade: No EAD, cursos como Pedagogia, Administração, Educação Física, Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Gestão de RH lideram. No presencial, Direito, Psicologia, Enfermagem e Medicina são os mais procurados, refletindo a preferência por carreiras regulamentadas.
Desafios e recomendações para mantenedores e reitores
A pluralidade regional e as tendências identificadas na pesquisa impõem desafios e apontam caminhos estratégicos:
Sustentabilidade das pequenas e médias IES: As IES de pequeno e médio porte enfrentam sérios desafios, sufocadas pela alta concentração de mercado e pela pressão sobre o valor das mensalidades. É crucial que capitalizem seus pontos fortes, como a qualidade do ensino, a tradição e a infraestrutura local, para criar propostas de valor únicas.
Planejamento estratégico orientado por dados: Dirigentes educacionais devem adotar uma abordagem data-driven para o planejamento de 2026, utilizando dados precisos para compreender a dinâmica de mercado local, analisar a concorrência e otimizar o portfólio de cursos de forma assertiva.
Otimização contínua do portfólio por modalidade: As instituições devem alinhar sua oferta educacional às necessidades e aspirações das comunidades, desenvolvendo portfólios distintos para EAD (com foco em flexibilidade e empregabilidade) e presencial (com valorização da experiência e cursos regulamentados).
Investimento na experiência do aluno presencial: Para a modalidade presencial, é crucial investir na qualidade da experiência acadêmica e social, buscando o "encantamento" e a fidelização do aluno através de infraestrutura moderna, corpo docente qualificado e atividades extracurriculares relevantes.
Em suma, a pesquisa do Grupo Crátilo reitera que o sucesso na educação superior particular brasileira passa, inevitavelmente, pela capacidade de compreender e responder à rica pluralidade de suas regiões. A tomada de decisão baseada em dados regionais é a chave para um crescimento sustentável e para o fortalecimento das IES em todo o país.
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